sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Kuerai

Quantas vezes desejei que meu lugar
não fosse aqui
Quantas vezes eu soube que meu lugar
não era aqui
em meus sonhos avisto
o mar de verde
sem-fim

O cheiro úmido
folhas, neblina
angústia emana
de mim
Tão perto,
tão longe daqui
Kilts, castelos, celtas
os rituais e as músicas
cheiros, sabores
dali

Quantas vezes amarrei uma fita
e desejei não ser ordinária
que vida ordinária
a daqui

Acreditei em amor sem-fronteiras
magia branca, verde e negra
no final, tudo igual
mesmo assim

Um sinal, meu senhor
de que tudo não termina
aqui

Brasil, utopia celta
meu continente, um fado
até em suas águas explorado
esgotado
logo mais verá um fim.

Tudo é karma?
destino?
a própria terra é um limbo?
mãe-terra vai embora
sem mim

quero gritá-la
chorá-la
ajoelhar-me
implorá-la
"me leve junto a ti"

Sou osso, carne
e fumaça
alguma energia engraçada
dança dentro de mim

Alguns chamam química
alma, espiríto, influência
devir
essência
xapiri.

Sequer sei daonde vim
porque tenho essa cor
essa maldita "raça"
porque deram a mim?

sei que sou india
nórdica e negra
algumas coisas meus traços dizem
outras sinto em mim.

Sequer sei daonde vim
Brasil tem suas maneiras
de apagar rastros, traços, certezas
as pegadas
de si

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